Herdeiros da Lagoa «Sem experiencia a sabedoria é pequena» (anónimo)

31-10-2014 14:48

Fevereiro e Março de 2005, dias passados com pescadores

Estamos numa manha fria de fevereiro. Mais um dia no ritual quatidiano de ida a lagoa para os mariscadores. Depois de sairmos do Vau chegamos a hora marcada a Cova da Fabrica. Assim se designa, porque existiu aqui uma antiga fabrica de tijolo que acabou de laborar ha cerca de 50 anos. Restam alguns vestigios do que resta da fabrica que tinha uma construçao em cimento. A paisagem e deslumbrante. O ceu esta limpo e a temperatura e amena. A maioria dos pescadores sai para a lagoa entre as 8 e as 9 da manha. No verao, chegam a ir as 5 horas para terminarem a faina por volta das 10 horas «antes que o sol aperte», como dizem. Fazem cerca de 4 horas de trabalho de marisqueio por dia. Os mais novos e que exercem a actividade de forma profissional vem todos os dias, sempre que o tempo deixar. Vivem do que a lagoa da e sao o chefe de familia em termos tradicionais. Nao tem dias de folga, nem mesmo ao domingo. Sao uns apaixonados da terra e da lagoa, vivem para elas, que tudo lhes dao com o seu esforço. Sao 9 horas da manha. Embarcamos do abrigo da Cova da Fabrica. Os mariscadores juntam-se nos pequenos abrigos que se espalham em redor da lagoa. Chegam pela manha, em carrinhas ou veiculos 4x4, todo-o-terreno, dependendo da hora de saida consoante a estaçao do ano. No verao, saem mais cedo, na primavera e no inverno mais tarde, «porque as aguas estao muito frias», dizem-nos. A primeira barraca que existiu na Cova da Fabrica foi a do Valdemar(vai ja). Executam um ritual diario que consiste em retirar o motor da embarcaçao, que transportam consigo na caixa aberta da carrinha, e coloca-lo na bateira. «a minha bateira ja tem 6 anos, esta ja e a sexta. Uma bateira pode durar 20 ou 30 anos ou so 10!, depende da qualidade da madeira. Hoje ja nao sao aquilo que eram, por isso duram menos. No Nadadouro existe uma oficina tipo estaleiro de fazer e reparar barcos. As reparaçoes da maioria das bateiras sao feitas ai. Tem que se ter licença de estaleiro para se poder construir» referiu-nos Carlos ivo Santos. Depois vao a barraca e trazem o ancinho de mao (gadanho), que servira para apanhar o marisco. Berbigao, ameijoa-real, ameijoa-macha(cao), sao estas 3 especies de bivaldes que colectam. Para realizar a sua apanha, Carlos ivo parte da margem, tranquilamente, para a sua faina diaria. Deslocam-se numa bateira. Um pequeno motor fora de borda de pequena potencia, porque a lei assim o exige(max 10cv), faz deslocar lentamente a embarcaçao ao longo da lagoa no imenso espelho de agua. « Olhe ali e o canal do Chico Nega, assim se chama, porque veio para este local um rapaz da Usseira (Obidos) bom rapaz, antes era agricultor mas quando ele nasceu ja eu tinha muitos anos de lagoa....» disse-nos Carlos ivo Santos. O tempo esta de feiçao e os mariscadores tanto vem com a mare cheia, como com a mare vazia. Os que trabalham a pe so podem trabalhar na mare vazia, os que pescam dentro da bateira, so o vento os condiciona. Uma vez chegados ao abrigo da Cova da Fabrica, estamos a imaginar o peixe e o marisco, que eram transportados por carros de bois com caniços. Como musica de fundo, havia o chiar dos rodados e o alteio das vozes de animo e ordem de abegaos. Nao precisamos de nos afastar muito ou de ir procurar o exotico nas sociedades ditas primitivas. Ele existe aqui bem perto de nos. Esta a mao de ser trabalhado e revelado pelo antropologo. As nossas idas a lagoa vem confirmar o que acabamos de dizer.....

« Sr. Carlos Baptista, e seu colega Jose de deus, muito obrigado pela experiencia unica desta bonita descriçao»

F. Martins

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